Bandeiras - Brasil e Portugal

Brasileiros em Portugal e o Crescente Discurso Anti-Imigração

A imigração em Portugal tem ganhado novas proporções, especialmente com a chegada massiva de brasileiros, que hoje formam a maior comunidade estrangeira no país, somando cerca de 368 mil residentes. No entanto, o crescimento da extrema-direita, representada pelo partido Chega, e a crise habitacional têm impulsionado um discurso anti-imigrante, que afeta diretamente brasileiros e outras nacionalidades.

O aumento da imigração e a resposta política

Nos últimos cinco anos, o número de imigrantes em Portugal dobrou, atingindo um milhão de estrangeiros registrados. Além disso, cerca de 400 mil brasileiros aguardam regularização. A falta de políticas públicas eficazes resultou na exclusão de muitos imigrantes de direitos sociais, enquanto o custo de vida elevado e a pressão sobre os serviços públicos geram tensões.

Em 2024, o governo português endureceu as regras migratórias, eliminando a Manifestação de Interesse, um mecanismo essencial para a regularização de brasileiros. Essa mudança reduz as oportunidades de legalização, intensificando a vulnerabilidade dos imigrantes.

A ascensão do discurso anti-imigrante e a extrema-direita

O partido Chega, fundado em 2019, tornou-se a terceira maior força política nas eleições de 2024, com 48 deputados. O crescimento da legenda rompeu com o antigo consenso pró-imigração mantido pelos partidos tradicionais (PS e PSD) e reflete um movimento nacionalista semelhante ao que ocorre na Europa e nos EUA.

O discurso promovido por Chega segue a lógica do “nós contra eles”, associando imigração a criminalidade, sobrecarga dos serviços públicos e perda da identidade nacional. Estratégias como a desinformação em redes sociais têm acelerado a propagação de discursos xenofóbicos, fortalecendo a rejeição à diversidade cultural.

Entre as principais narrativas disseminadas estão:

  • A teoria da “substituição populacional”, alegando que imigrantes tomam o espaço dos portugueses.
  • A ideia de “superioridade cultural”, associada à defesa de uma identidade nacional homogênea.
  • A legitimação da violência contra imigrantes, apresentada como “proteção nacional”.

Imigração racializada e aumento da violência

Enquanto brasileiros brancos e de classe média são melhor aceitos, imigrantes negros e de baixa renda enfrentam racismo e exclusão mais acentuados. Ataques a brasileiros têm se tornado cada vez mais frequentes:

  • Dezembro de 2023: Brasileira foi verbalmente atacada no aeroporto de Lisboa.
  • 2023: Saulo Jucá, pernambucano, foi espancado brutalmente em Braga.
  • Outubro de 2023: Odair Moniz, imigrante, foi morto pela polícia em Amadora, levando a protestos contra a violência policial.

Em resposta, Chega organizou atos em apoio às forças de segurança, fortalecendo um discurso que normaliza a repressão a imigrantes e intensifica a polarização social.

O que esperar do futuro?

A crescente visibilidade da extrema-direita indica que a imigração continuará no centro do debate político em Portugal. O país enfrentará desafios para conciliar sua identidade multicultural com a pressão por políticas mais restritivas, o que pode impactar brasileiros e outras comunidades migrantes nos próximos anos.