Em 2024, o incentivo à presença de mulheres e meninas na ciência ganhou força. A Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação da Câmara dos Deputados aprovou, em novembro, um projeto de lei que estimula a inclusão feminina no setor. Paralelamente, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) vem ampliando investimentos e iniciativas para promover a formação, a permanência e a ascensão das mulheres na área científica.
Apesar de ocuparem 54% das bolsas de mestrado e 53% das de doutorado concedidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), as mulheres representam apenas 35,5% das bolsas de produtividade, voltadas a pesquisadores com maior destaque acadêmico. Essa disparidade torna-se ainda mais evidente em Tecnologia e Exatas, em que elas são apenas 15,7% das estudantes de TI e ocupam 39% dos empregos em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).
No Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado em 11 de fevereiro, reforça-se a importância de políticas públicas que garantam a equidade de gênero na produção científica e tecnológica. A ministra do MCTI, Luciana Santos, ressalta que iniciativas de inclusão são fundamentais para corrigir desequilíbrios históricos: “Estamos empenhados na construção de políticas que estimulem, abram caminhos e garantam oportunidades. Ao não valorizar os talentos femininos, o país perde a diversidade de olhares que enriquecem sua produção científica.”
Iniciativas do MCTI para ampliar a presença feminina na ciência
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Guardiãs das Águas – Meninas pelo Saneamento
Liderado pela professora Jeamylle Nilin (UFU) e financiado pelo CNPq, MCTI e Ministério das Mulheres, o projeto incentiva alunas de escolas públicas de seis estados a pesquisarem saneamento e qualidade da água. Com duração de três anos, oferece bolsas de iniciação científica a estudantes do ensino fundamental e médio, além de capacitação para professoras e pesquisadoras. -
Futuras Cientistas
Programa do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (CETENE) que investe em meninas e professoras da rede pública, proporcionando imersões e estudos com um aporte anual de R$ 1,2 milhão. -
Prêmio Mulheres e Ciência
Premiação em três categorias (Estímulo, Trajetória e Mérito Institucional) que reconhece pesquisadoras e oferece incentivos financeiros e oportunidades em eventos científicos. -
Edital Meninas nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação
Com investimento de R$ 100 milhões até 2026, financia projetos para incentivar o ingresso e a permanência de meninas nessas áreas. Pelo menos 40% das bolsas são reservadas a meninas negras e indígenas. -
Chamada Atlânticas do Programa Beatriz Nascimento
Destinada a mulheres negras, ciganas, quilombolas e indígenas. Até agora, 86 pesquisadoras foram contempladas, em um investimento superior a R$ 8 milhões. -
Programa Mulheres Inovadoras
Em sua quinta edição, apoia startups lideradas por mulheres. Com um total de R$ 1,8 milhão, oferece mentorias e premiação para até 30 empresas. -
Programa Centelha
Estimula a criação de startups inovadoras e já recebeu mais de 26 mil propostas em 26 estados. Cerca de um terço dos proponentes são mulheres. -
Conecta Startup Brasil
Voltado para a pré-aceleração de startups, já capacitou centenas de empreendedoras. Em sua segunda edição, investe R$ 5 milhões, e 43% das equipes participantes contam com mulheres. -
Capacitação em TICs
Oferece formação em áreas como microeletrônica, inteligência artificial e inovação digital, reservando vagas para mulheres e grupos sub-representados em programas como Residência em TIC 09 e 16. -
Bolsa Futuro Digital
Com previsão de 10 mil vagas em 2025, destina metade delas para mulheres, num investimento de R$ 55 milhões. O objetivo é incentivar o reingresso e a permanência de jovens no mercado de trabalho. -
Popularização da Ciência (Pop Ciência)
Conta com R$ 250 milhões para apoiar museus, feiras científicas e projetos de educação científica. Metade das propostas recentes foram coordenadas por mulheres.
Um passo legislativo pela igualdade
O projeto de lei aprovado pela Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação da Câmara dos Deputados tem foco na redução das desigualdades enfrentadas por mulheres na ciência. Entre as medidas, propõe:
- Regime especial de avaliação acadêmica para docentes que se tornaram mães ou que cuidam de familiares com deficiência ou doença grave.
- Ampliação de prazos para análise da produção acadêmica de mulheres em concursos.
- Reserva de financiamento para pesquisadoras mães.
- Redução da carga horária docente nos primeiros anos após a maternidade ou adoção.
A relatora, deputada Daiana Santos (PCdoB-RS), destaca o objetivo de mitigar os impactos desproporcionais das obrigações parentais na carreira acadêmica feminina. O texto segue agora para avaliação das comissões de Educação e de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). Se aprovado, será encaminhado ao Plenário da Câmara e, posteriormente, ao Senado.

Com avanços legislativos e iniciativas concretas, o Brasil dá passos importantes para equilibrar a participação feminina na ciência, incentivando novas gerações de pesquisadoras a consolidar e expandir suas trajetórias acadêmicas e profissionais.
Fontes adicionais: