As tarifas anunciadas pelo presidente Donald Trump podem afetar muito mais setores do que apenas o aço e o alumínio. Com uma possível redução na produção de aço no Brasil, o país compraria menos carvão dos Estados Unidos. Em 2024, por exemplo, 45% do carvão importado pelo Brasil vieram de produtores norte-americanos.
O mercado ainda estuda as consequências de lidar com tarifas mais altas, principalmente porque quase metade das exportações brasileiras de aço tem como destino os EUA. Essa barreira tarifária pode atingir empregos, investimentos e toda a cadeia produtiva.
Para produzir aço, as siderúrgicas utilizam minério de ferro. Nos altos-fornos, o minério reage com carvão mineral para formar o ferro-gusa, que depois é transformado em placas de aço. “Existem quase 70 tipos de aço diferentes, e o Brasil exporta mais de 20, usados em áreas que vão da embalagem de alimentos à indústria automotiva e aeroespacial. Não dá para aplicar uma tarifa uniforme de 25% sem desarranjar muitas cadeias produtivas”, explica Welber Barral, presidente do Instituto Brasileiro de Comércio Exterior e Investimentos.
Especialistas acreditam que os efeitos se estendam para além da indústria de aço no Brasil. Com a produção reduzida, haverá menor importação de carvão norte-americano. Em 2024, 45% do carvão comprado pelo Brasil veio dos EUA, equivalendo a US$ 1,4 bilhão. O professor Germano de Paula, da Universidade Federal de Uberlândia, diz que as medidas de Trump prejudicam os setores ligados ao aço. “A siderúrgica brasileira terá dificuldade em encontrar novos mercados para o que era enviado aos EUA, gerando impacto na cadeia, pois vai precisar de menos insumos, como minério de ferro e carvão”, esclarece.
Segundo especialistas em comércio internacional, as novas tarifas colocam em risco contratos de venda e transporte já firmados, além de poder comprometer a produção, o lucro e a capacidade de investimento no país. No entanto, tudo depende dos próximos passos do governo norte-americano e das possíveis ações do governo brasileiro.
“A preocupação principal do setor é ter de lidar com uma medida drástica em pouco tempo, resultando em maior ociosidade, menores lucros e menor capacidade de investimento”, destaca Germano de Paula. Essa situação repete um cenário semelhante ao do primeiro mandato de Trump, quando tarifas de importação de aço e alumínio foram elevadas para proteger a indústria dos EUA. Na ocasião, Brasil e Estados Unidos negociaram um acordo de cotas de exportação.
O embaixador José Alfredo Graça Lima, que atua como árbitro na Organização Mundial do Comércio e é vice-presidente do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), acredita que o aumento das tarifas gera impactos negativos tanto no Brasil quanto nos EUA, o que pode levar a novas negociações. “Talvez não diretamente com o presidente, mas em nível técnico, para discutir como evitar prejudicar o comércio, avançando nos interesses americanos sem causar perdas significativas ao Brasil”, finaliza.
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