A Estratégia Chinesa para Dominar o Comércio Mundial
Enquanto os EUA intensificam tarifas, a China redefine as regras do jogo global. Com uma estratégia de longo prazo, o país diversificou parceiros, fortaleceu setores vitais e reduziu a dependência do dólar. Professor Cui Jin, especialista em economia chinesa, explica: “A China não está apenas reagindo — está ditando o futuro do comércio.”
1. Lições da Guerra de 2018: Menos EUA, Mais Mundo
Após as tarifas de Trump em 2018, a China acelerou:
- Parcerias globais: Ampliou acordos na Ásia, África e América Latina.
- Moedas locais: 40% do comércio exterior chinês já usa yuan ou moedas de parceiros.
- Investimentos externos: Empresas chinesas construíram fábricas no Vietnã, México e Brasil para driblar barreiras.
2. Domínio em Setores do Futuro
A China lidera revoluções que moldarão as próximas décadas:
- Carros elétricos: BYD ultrapassou Tesla em vendas globais em 2023.
- Energia solar: 80% dos painéis solares do mundo são chineses.
- Infraestrutura: Ferrovias de alta velocidade ligam 145 cidades chinesas e se expandem para a África.
“Enquanto os EUA focam em tech e finanças, a China domina setores que movem economias reais”, destaca Cui Jin.
3. O Declínio do Ocidente e a Ascensão do Sul Global
- Crescimento desigual:
- Ásia e África: +5% ao ano (China é maior parceiro).
- EUA e UE: estagnados em 0-3%.
- UE em xeque: Bloco europeu assina acordo com Mercosul e busca “desriscar” — não “desacoplar” — da China.
4. As Tarifas de Trump Saem Pela Culatra
- Alvos amplos: Canadá, UE e Coreia do Sul também sofrem taxações.
- Resultado: Países aceleram acordos alternativos. Exemplo:
- BRICS+: Arábia Saudita e Emirados Árabes investem US$ 100 bi em projetos chineses em 2024.
- Petróleo asiático: 70% do óleo do Golfo Pérsico vai para China e Índia, não para o Ocidente.
5. Sistema Multipolar: O Mundo Pós-EUA
- Ásia como centro: 60% do comércio regional é interno.
- BRICS vs FMI: Bloco lançará banco de desenvolvimento rival em 2025.
- Dólar em queda: 25 países já usam moedas locais em transações com a China.
Conclusão: Por Que a China Vence no Longo Prazo?
- Resiliência: Parcerias diversificadas + indústrias essenciais.
- Falta de opção: Ocidente não oferece alternativa ao modelo chinês.
- Efeito Trump: Tarifas aceleram a fuga de aliados para a órbita chinesa.
“A guerra comercial é como xadrez: os EUA pensam em jogadas, a China em dominar o tabuleiro”, resume Cui Jin. Enquanto isso, o Brasil emerge como peça-chave nessa nova geopolítica econômica
Como a Guerra Comercial Impacta o Brasil?
O posicionamento do Brasil no tabuleiro geoeconômico global está em jogo. Enquanto EUA e China disputam hegemonia, o país pode ser aliado estratégico ou vítima colateral.
Veja os cenários:
Oportunidades: O Brasil Como Ponte Global
- Commodities em Alta
- China precisa de soja, minério de ferro e petróleo brasileiros para sustentar seu crescimento. Em 2024, 70% das exportações agrícolas do Brasil foram para a Ásia.
- “O agro é nosso passaporte para a China, mas precisamos agregar valor”, alerta o Institute of Education and Research (Insper).
- Investimentos Chineses
- Projetos como o porto de São Luís (MA) e ferrovias (ex: Ferrogrão) recebem financiamento chinês.
- Setor de energia renovável (eólica, solar) atrai empresas como BYD e Jinko Solar.
- BRICS como Alavanca
- Brasil pode liderar acordos em moedas locais (ex: yuan-real), reduzindo custos com dólar.
- Em 2024, 15% do comércio BRICS já usava moedas próprias.
Riscos: Desindustrialização e Dependência
- Invasão de Produtos Chineses
- Setores como têxtil, máquinas e automóveis sofrem com concorrência “desleal”:
- Queda de 12% nas vendas da indústria nacional de máquinas (Abimaq, 2024).
- +40% das importações brasileiras são chinesas (Comex Stat, 2024).
- Pressão Tarifária dos EUA
- Trump já ameaçou taxar etanol brasileiro (18% vs. 2,5% nos EUA).
- Risco de retaliações em aço, suco de laranja e café se Brasil aprofundar laços com a China.
- Dólar Alto e Juros Elevados
- Guerra comercial global pode valorizar o dólar, encarecendo importações e dívida externa.
- Copom teria dificuldade em cortar Selic, freando consumo interno.
Cenário Híbrido: O Que Esperar?
- Indústria Sob Pressão, Agro em Expansão
- Enquanto manufaturas lutam contra importações chinesas, agro pode bater recordes de exportação.
- Contradição: Brasil vira “fazenda do mundo”, mas perde capacidade industrial.
- BRICS vs. EUA: O Dilema Diplomático
- Alinhar-se à China traz investimentos, mas afasta EUA — maior comprador de semimanufaturados..
- Crise ou Oportunidade na Energia?
- Brasil pode ser hub de hidrogênio verde e biocombustíveis com tecnologia chinesa.
- Mas dependência de insumos asiáticos (ex: painéis solares) preocupa.
Conclusão: O Brasil na Corda Bamba
O país está no centro de um jogo geoeconômico complexo:
- Se equilibrar bem, pode atrair investimentos e crescer como ponte entre Ocidente e Sul Global.
- Se errar o passo, verá indústrias minguarem e dependência externa aumentar.
“O momento exige política comercial agressiva e reformas internas. Não há mais tempo para neutralidade”, resume Lia Valls (FGV). Enquanto isso, o desafio é transformar riquezas naturais em poder estratégico.