Javier Milei
Javier Milei

Argentina Deixa a OMS e Critica Quarentena na Pandemia

A Argentina anunciou sua saída da Organização Mundial da Saúde (OMS), decisão que ecoa a postura adotada anteriormente pelos Estados Unidos durante o governo de Donald Trump. O porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, declarou que a medida se baseia em “profundas diferenças na gestão da saúde, especialmente durante a pandemia de covid-19”. Segundo Adorni, “não permitiremos que uma organização internacional interfira em nossa soberania, muito menos na nossa saúde.”

O comunicado oficial, assinado pelo presidente Javier Milei, acusa a OMS de ter fracassado na condução da pandemia, criticando especialmente as políticas de quarentena. O governo argentino afirma que as medidas de isolamento causaram “uma das maiores catástrofes econômicas da história mundial”, deixando crianças fora das escolas, trabalhadores sem renda e empresas à falência. A nota ainda responsabiliza indiretamente a OMS por 130 mil mortes no país.

Críticas à OMS e à Ciência

Milei alegou, sem apresentar evidências, que as decisões da OMS foram politicamente influenciadas, e não baseadas em ciência. “A comunidade internacional precisa repensar o propósito de organizações supranacionais que se dedicam mais à política internacional do que à saúde pública,” afirmou o presidente argentino.

Por outro lado, estudos científicos demonstram que as quarentenas foram fundamentais para o controle da pandemia. Uma pesquisa do Imperial College London, publicada na revista Nature em 2020, estimou que o isolamento social evitou mais de três milhões de mortes apenas na Europa.

Impactos da Saída da OMS

Embora a contribuição da Argentina para a OMS seja modesta — cerca de US$ 8,2 milhões no biênio 2022-2023 —, a decisão pode trazer sérias consequências para a saúde pública no país. Segundo Nicolás Dvoskin, economista e cientista político do Conselho de Investigação Científica da Argentina, a retirada é “de uma imbecilidade absoluta”, já que o país perderá acesso a fundos estratégicos e rotativos para campanhas de vacinação e produção de medicamentos.

A Argentina já enfrentou desafios recentes, como o surto de dengue em 2023, agravado pela falta de repelentes e vacinas no sistema público. A saída da OMS pode dificultar ainda mais o enfrentamento de crises sanitárias futuras.

Apesar da decisão, o governo argentino permanecerá na Organização Panamericana de Saúde (OPS), que é vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA). O ministro da saúde destacou que a permanência na OPS garante certo suporte regional, mas especialistas alertam que isso não compensará a perda de acesso às redes globais de saúde da OMS.

Contexto Internacional: O Caso dos EUA

A decisão de Milei reflete a postura de Donald Trump, que retirou os Estados Unidos da OMS em 2020, alegando má gestão e suposta influência da China sobre a organização. No entanto, enquanto os EUA são o maior financiador da OMS — contribuindo com US$ 1,28 bilhão no biênio 2022-2023 —, a Argentina não possui a mesma capacidade financeira e influência geopolítica para sustentar tal rompimento.

Analistas destacam que, diferente dos EUA, a Argentina é uma nação periférica e dependente de apoio internacional em diversas frentes, especialmente na saúde. O corte de laços com a OMS pode isolar o país em um momento em que a ciência e a colaboração global são cruciais.

Repercussão e Críticas

A decisão de Milei gerou reações negativas na comunidade científica. ganhadores do Prêmio Nobel enviaram uma carta ao presidente argentino alertando que as políticas adotadas podem levar o sistema científico do país a um “precipício”. Eles destacaram que o ataque à ciência e a redução de investimentos em saúde pública são prejudiciais a longo prazo.

Milei, conhecido por seu ceticismo em relação a questões como mudanças climáticas e vacinação, já havia expressado críticas ao isolamento social em seu livro publicado em 2020, chamando a quarentena de “crime contra a humanidade”.

Fontes Adicionais: