KK Park, a fábrica de golpes que escravizava brasileiros — Foto: Reprodução

Brasileiros escravizados em Mianmar eram forçados a aplicar golpes

Os brasileiros Phelipe Ferreira e Luckas Santos viveram três meses de terror após caírem em uma rede de tráfico humano no Sudeste Asiático. Atraídos por falsas promessas de emprego, eles foram levados para Mianmar, onde foram escravizados e forçados a aplicar golpes pela internet em outros brasileiros.

Os jovens trabalhavam sob ameaça constante de tortura, sendo monitorados 24 horas por dia e submetidos a punições como eletrochoques e espancamentos.

O golpe: como a máfia operava

Os reféns eram obrigados a se passar por uma modelo chinesa e iniciar conversas com vítimas online. O esquema seguia um roteiro detalhado:

  • Nos primeiros dias, faziam perguntas pessoais para ganhar a confiança do alvo.
  • Depois, fingiam trabalhar em uma plataforma chamada Wish e ofereciam comissões para quem “ajudasse”.
  • A vítima inicialmente recebia um pequeno pagamento, mas logo era induzida a fazer recargas cada vez mais altas, chegando a perder até US$ 5 mil.

“Fui obrigado a enganar outros brasileiros. Mas brasileiro é mais esperto, era mais difícil. Já os estrangeiros, como russos e caribenhos, eram mais fáceis de enganar”, contou Phelipe.

Ele relatou que uma vítima do Caribe perdeu €350 mil após acreditar que um golpista chinês viajaria para viver com ela. A máfia insistiu para que ele continuasse extorquindo a mulher.

Rotina de tortura e escravidão

Os brasileiros trabalhavam 16 a 22 horas por dia, sob constante vigilância. Quem não atingia metas era punido.

“Recebi três punições. Tive que fazer 500 agachamentos sobre uma plataforma com pregos. Minha perna travou, mas mesmo assim tive que continuar trabalhando”, revelou Phelipe.

Ele também viu outros reféns sendo torturados. Um deles tentou escapar e foi espancado por 20 dias seguidos, recebendo eletrochoques e sendo preso a uma cama de ferro.

A fuga e o resgate

Phelipe e Luckas planejaram escapar três vezes antes de conseguirem fugir em 8 de fevereiro de 2025. Eles correram por dois quilômetros e atravessaram um rio, mas foram perseguidos.

Foram capturados por um grupo rebelde chamado Exército Democrático Karen Budista (DKBA), que os manteve detidos até confirmar que eram vítimas de tráfico humano. Depois, foram levados para a Tailândia, onde receberam apoio da ONG The Exodus Road e da embaixada brasileira.

Repercussão e alerta contra tráfico humano

Agora seguros, os jovens alertam sobre os perigos do tráfico humano e das falsas oportunidades de trabalho no exterior.

O Itamaraty informou que está intensificando campanhas para alertar brasileiros sobre o aumento de golpes na Ásia e recomenda que qualquer proposta de emprego no exterior seja investigada a fundo antes de ser aceita.

A história de Phelipe e Luckas é um alerta sobre os riscos do tráfico humano digital, uma indústria criminosa que cresce na era das redes sociais e das criptomoedas.

Fontes adicionais: BBC, G1 Globo, Intercept Brasil