Nos últimos tempos, temos testemunhado o verdadeiro valor da democracia em um cenário global dominado por populismos de esquerda e direita e pelo poder do capital. A posse de Donald Trump como o 47º presidente dos Estados Unidos é um exemplo disso, com líderes políticos e a elite financeira acompanhando de perto sua ascensão. O evento gerou reflexões sobre o papel das instituições democráticas e a crescente influência econômica sobre o sistema político.
A Democracia Ainda é o Melhor Modelo?
A famosa frase de Winston Churchill, “A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que já foram experimentadas”, ainda faz sentido? Em um mundo onde as desigualdades aumentam e os extremos políticos ganham força, o modelo democrático atual, fortemente atrelado ao livre mercado, tem mostrado fraquezas evidentes.
Por outro lado, a ascensão das autocracias reforça o contraste: nesses regimes, direitos são suprimidos, propagandas governamentais obscurecem a realidade e os cidadãos perdem qualquer recurso legal para defender suas liberdades. A democracia, mesmo imperfeita, continua sendo a melhor alternativa para garantir a coexistência pacífica entre diferentes grupos sociais.
A Força das Instituições Democráticas
A recente renúncia de Justin Trudeau como primeiro-ministro do Canadá ilustra como as democracias podem lidar com crises políticas de forma ordenada. A perda de coesão dentro do governo liberal levou à sua saída, enquanto a oposição exigia novas eleições para redefinir a liderança do país diante do novo cenário político global. O respeito às regras do jogo democrático foi essencial para manter a estabilidade política.
Nos Estados Unidos, a transição de poder também destacou a importância das instituições. Kamala Harris, ao reconhecer sua derrota eleitoral, seguiu suas funções como vice-presidente, reforçando o princípio democrático de aceitação dos resultados. O próprio ritual de posse de Trump trouxe símbolos marcantes, desde a tradicional homenagem ao Soldado Desconhecido até seu juramento sobre duas Bíblias – uma delas pertencente a Abraham Lincoln.
O Caso Brasileiro: Bolsonaro e os Testes à Democracia
O Brasil também viveu momentos cruciais para sua democracia durante o governo de Jair Bolsonaro. O ex-presidente, conhecido por seu discurso de confrontação contra instituições democráticas, frequentemente atacou o sistema eleitoral, questionou a legitimidade das urnas eletrônicas e travou embates com o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional.
A democracia brasileira mostrou resiliência ao resistir às pressões do então presidente para enfraquecer instituições fundamentais. As eleições de 2022 foram um marco nesse processo, com um período eleitoral tenso e ataques diretos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apesar das tentativas de deslegitimar o sistema, a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva foi reconhecida e garantida pelas instituições democráticas.
O ápice da tensão ocorreu em 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores de Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em uma tentativa de insurreição. O episódio foi amplamente comparado à invasão do Capitólio nos EUA e demonstrou os desafios contínuos para a manutenção da ordem democrática em um país polarizado.
Mesmo diante dessas ameaças, a democracia brasileira se manteve de pé. As investigações sobre os responsáveis pelos ataques seguem em andamento, e Bolsonaro enfrenta uma série de processos judiciais que podem impactar seu futuro político.
O Futuro da Democracia
Se por um lado as eleições refletem a vontade popular, por outro, governos democraticamente eleitos podem tomar decisões que minam a própria democracia.
O perigo reside na ascensão de líderes populistas que, sob o pretexto de atender às demandas populares, desmantelam instituições, polarizam sociedades e comprometem direitos fundamentais.
A ausência de líderes latino-americanos de peso na posse de Trump, como os presidentes Sheinbaum (México) e Trudeau (Canadá), levanta preocupações sobre o impacto do novo governo na região. Enquanto isso, a presença dos líderes da Argentina, Equador e El Salvador sugere uma nova dinâmica geopolítica.
Diante desse cenário, a pergunta permanece: há um sistema político melhor que a democracia? Até agora, a história não nos apresentou uma alternativa viável que garanta tanto liberdade quanto estabilidade. Mas se a democracia não se reinventar, poderá, ironicamente, ser vítima de seu próprio sucesso – ou da falta dele.