Um estudo conduzido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) lançou luz sobre as disparidades étnicas e raciais que influenciam o desenvolvimento infantil. Publicado no BMC Pediatrics, o estudo destaca a influência da etnia e cor da gestante na trajetória de crescimento e ganho de peso de seus filhos, com especial atenção para as crianças nascidas de mães indígenas.
De acordo com os dados levantados, filhos de mães indígenas apresentaram taxas mais elevadas de baixa estatura para a idade (26,74%) e baixo peso para a idade (5,90%). Este cenário de magreza também foi observado em crianças filhas de mães pardas, pretas e com descendência asiática, em comparação com as crianças de mulheres brancas.
A pesquisa analisou informações de mais de 4 milhões de crianças nascidas entre janeiro de 2003 e novembro de 2015, com acompanhamento de seu desenvolvimento entre 2008 e 2017. Os resultados revelaram que crianças nascidas de mães indígenas apresentaram, em média, 3,3 centímetros a menos que as nascidas de mães brancas.
“Esses achados demonstram como a vulnerabilidade social das gestantes pode impactar diretamente o desenvolvimento de seus filhos”, explicou Helena Benes, primeira autora do estudo. Benes também destacou a persistência do racismo estrutural na sociedade, enfatizando que medidas governamentais e de saúde pública para combater o racismo são essenciais para mitigar seus efeitos prejudiciais, inclusive no crescimento das crianças.
Além das diferenças no crescimento infantil, o estudo identificou outras disparidades entre os grupos étnicos e raciais. Mulheres indígenas e pretas foram as mais afetadas, registrando menores níveis educacionais e maiores índices de incompletude no acompanhamento pré-natal.
Embora os pesquisadores tenham enfatizado que as trajetórias de crescimento infantil estiveram dentro dos limites considerados normais pela Organização Mundial da Saúde, eles ressaltam que crianças nascidas de mães mais vulneráveis socialmente tendem a apresentar características menos favoráveis. Este estudo lança luz sobre a necessidade urgente de abordar não apenas as disparidades de saúde, mas também as desigualdades sociais subjacentes que afetam o desenvolvimento infantil.