A população palestina marca, em 2024, os 77 anos da Nakba, termo árabe para “catástrofe”, referindo-se à expulsão de cerca de 700 mil palestinos de suas terras em 1948, quando Israel foi fundado. No entanto, muitos acreditam que a crise atual em Gaza pode ser ainda pior.
O presidente dos EUA, Donald Trump, sugeriu recentemente que os palestinos deslocados na Faixa de Gaza deveriam ser reassentados permanentemente fora do território e que os Estados Unidos deveriam “tomar posse” da região. A declaração gerou indignação e temor entre palestinos, que veem nisso um prenúncio de uma nova Nakba.
A catástrofe de 1948 e a crise de 2024
Após a guerra de 1948, Israel negou o retorno dos refugiados palestinos, alegando que isso ameaçaria sua identidade como um Estado judeu. Desde então, milhões de palestinos e seus descendentes vivem em campos de refugiados no Líbano, Síria, Jordânia, Cisjordânia e Gaza. Hoje, cerca de 75% da população de Gaza é composta por refugiados ou seus descendentes.
Com a guerra entre Israel e Hamas, que começou em outubro de 2023, mais de 47 mil palestinos já morreram, segundo autoridades locais. Além disso, cerca de 1,7 milhão de pessoas foram deslocadas, muitas pela segunda ou terceira vez na vida. Imagens recentes mostram palestinos fugindo de Gaza em cenas que lembram as fotografias da Nakba original.
Mustafa al-Gazzar, de 80 anos, descreveu sua fuga em 1948 de sua vila no centro de Israel para Rafah, no sul de Gaza. Em 2024, ele se viu novamente forçado a fugir, desta vez para um campo improvisado em Muwasi, onde vivem 450 mil palestinos em condições extremamente precárias. “Minha esperança em 1948 era voltar. Hoje, é apenas sobreviver”, disse ele.
Temores de uma nova expulsão
A comunidade internacional rejeita qualquer plano de reassentamento forçado dos palestinos, mas membros da extrema direita israelense têm defendido a chamada “emigração voluntária”. Israel argumenta há décadas que os refugiados palestinos deveriam ser absorvidos pelos países que os acolheram, enquanto os palestinos insistem em seu direito de retorno.
Mesmo que não haja uma expulsão em massa, muitos palestinos temem que nunca mais possam voltar para suas casas devido à destruição generalizada. Estima-se que a reconstrução total de Gaza possa levar até 2040.
A acadêmica palestina Yara Asi, da Universidade da Flórida Central, acredita que uma nova Nakba pode ocorrer de forma gradual, forçando os palestinos a sair devido às condições insuportáveis. “Isso não será chamado de deslocamento forçado. Será chamado de emigração, de outra coisa. Mas, na essência, será o mesmo processo que vimos em 1948”, alertou.
O futuro incerto de Gaza
A Faixa de Gaza tem sido palco de sucessivas crises desde sua ocupação por Israel em 1967. Após a retirada israelense em 2005, o território passou a ser governado pelo Hamas e submetido a um bloqueio severo por Israel e Egito. A situação se agravou com a guerra iniciada após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou cerca de 1.200 israelenses.
Com a trégua iniciada em janeiro de 2024, algumas áreas de Gaza foram reabertas para que os palestinos pudessem retornar, mas encontraram apenas escombros. A destruição causada por bombardeios de alta potência transformou bairros inteiros em ruínas.
Enquanto isso, negociações intermediadas por Estados Unidos, Catar e Egito tentam consolidar um cessar-fogo permanente e garantir a libertação de reféns e prisioneiros. No entanto, se um acordo não for alcançado até março, a guerra pode ser retomada.
O destino de Gaza e de seu povo permanece incerto, mas uma coisa é clara para os palestinos: o medo de uma nova Nakba nunca foi tão real.
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