Em janeiro, um voo da Global Crossing Airlines pousou em Manaus com 100 brasileiros deportados dos EUA. A cena dos deportados algemados e debilitados, capturada em vídeo pela CNN, revelou um detalhe perturbador: gargalhadas ao fundo e um funcionário rindo discretamente para a câmera.
A pergunta que fica é: o que há de engraçado nisso?
O escárnio diante de deportações não é um caso isolado. Redes sociais estão repletas de comentários zombeteiros e moralistas sobre brasileiros deportados dos EUA. O mesmo “kkkkkk” que ecoa na internet acompanha a expulsão de 11.621 brasileiros desde 2019, por meio de 121 voos fretados.
Deportações em Massa: Quem Lucra com Isso?
Desde o governo Trump, a prática de deportação em voos charter privados se intensificou. Empresas como Swift/iAero, Omni Air International, Eastern Airlines, Kaiser Air e Global Crossing Airlines lucram milhões com essa política.
Estudos da Universidade de Washington revelam abusos físicos e psicológicos cometidos contra deportados por agentes terceirizados, sem qualquer supervisão. Mesmo sob o governo Biden, quase 10.000 brasileiros foram deportados nas mesmas condições humilhantes.
O Brasil, sob Lula, prometeu revisar essa política. No entanto, 33 voos de deportação já ocorreram desde sua posse, trazendo de volta 3.818 brasileiros. A reação do governo só veio após imagens de algemados desembarcando ganharem repercussão internacional.
O “kkkkkk” da Indiferença
O riso cruel se manifesta em dois grupos principais:
- Os que veem os deportados como criminosos – Defendem que os EUA são um país “sério” e que os deportados são responsáveis por sua situação. Para eles, a violação de tratados internacionais ou o desrespeito à soberania brasileira não importa.
- Os que zombam dos deportados por terem apoiado Trump – Veem a deportação como uma ironia do destino, um “castigo merecido”. Mas esquecem que as políticas de imigração dos EUA, sejam sob democratas ou republicanos, continuam desumanas.
Ambos os lados ignoram questões mais profundas:
- Por que tantos brasileiros se arriscam para viver ilegalmente nos EUA?
- O que o Brasil faz (ou não faz) para garantir que seu povo não precise fugir do próprio país?
- Como a interferência dos EUA na América Latina molda as crises migratórias?
O Riso Que Nos Condena
O filósofo Henri Bergson dizia que o riso serve para disciplinar e reforçar normas sociais. No caso das deportações, ele reforça nossa alienação e nossa aceitação passiva da injustiça.
Rimos da miséria de outros sem perceber que essa miséria é nossa também. Rimos para evitar discutir o papel do Brasil nessa crise. Rimos para não admitir que poderíamos estar no lugar deles.
No final, é um riso triste, tolo e cruel.
Pobre do país que ri da sua própria tragédia social.