Marcos Do Val disse em entrevista coletiva que havia sido convidado para uma reunião no dia 9 de dezembro com o então presidente Bolsonaro por seu apoiador, o ex-deputado Daniel Silveira. Na reunião, Silveira pediu ao senador que tentasse fazer com que o chefe da Justiça Eleitoral fizesse comentários comprometedores em uma conversa gravada que poderia levar à prisão do juiz, disse do Val.
O senador disse a repórteres que Bolsonaro “sentou-se em silêncio” enquanto Silveira desenhava o complô contra o ministro Alexandre de Moraes, juiz do Supremo Tribunal Federal que comanda o TSE.
Bolsonaro havia feito ataques infundados à integridade do sistema de votação eletrônica, que Moraes defendeu em decisões que Bolsonaro culpou por sua derrota.
Silveira foi preso pela polícia na quinta-feira em um mandado expedido por Moraes, que o acusou de desobedecer a decisões judiciais e “completo desrespeito e escárnio” do Judiciário.
De imediato, não foi possível contatar representantes de Bolsonaro, que está em Orlando, na Flórida, desde o final de dezembro, chegando lá dois dias antes do término de seu mandato. Seu partido, o Partido Liberal, se recusou a comentar.
O senador Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente, disse em nota que nunca houve tentativa de golpe e que seu pai é um “defensor da lei e da ordem e sempre atuou dentro das quatro linhas da Constituição”.
O relato de Do Val é o testemunho mais forte até agora para apoiar as acusações de que Bolsonaro tentou derrubar o resultado da eleição de outubro vencida por pouco pelo presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, que assumiu o cargo em 1º de janeiro.
A revista Veja, que primeiro noticiou a suposta conspiração, divulgou ainda na quinta-feira um áudio em que do Val diz ter ouvido os detalhes da trama diretamente de Bolsonaro na reunião de 9 de dezembro. A revista disse ter visto mensagens que provavam que o encontro havia acontecido.
Do Val disse à Veja que Bolsonaro disse que a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) daria apoio técnico com equipamentos de espionagem para a gravação de Moraes.
Mais cedo na quinta-feira, a ABIN disse em comunicado que “absolutamente não está envolvida em nenhuma iniciativa”, referindo-se ao suposto plano de gravar uma conversa com Moraes.
Bolsonaro trocou o Brasil pela Flórida 48 horas antes de Lula tomar posse, sem nunca admitir a derrota. Ele está sendo investigado por Moraes no Supremo Tribunal por seu suposto papel em inflamar motins de seus partidários, que invadiram prédios do governo em 8 de janeiro tentando provocar um golpe militar.
Moraes ordenou que Do Val prestasse depoimento à polícia federal em cinco dias como parte da investigação sobre o ex-presidente, de acordo com um documento judicial visto pela Reuters.
Do Val, que disse estar pensando em renunciar à sua cadeira no Senado, descreveu a reunião como “uma ação bizarra, imoral e até criminosa”, segundo a revista Veja.
Silveira disse ao ex-presidente que Do Val, um apoiador de Bolsonaro, era confiável e pediu a Bolsonaro que lhe apresentasse “a ideia que salvaria o Brasil”, segundo reportagem da Veja.
O ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) foi preso em Petrópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro, na manhã de 2 de Fevereiro 2023 , por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A prisão ocorre no primeiro dia de Silveira sem mandato. Ele tentou se eleger senador na última eleição, mas sua candidatura foi barrada com base na Lei da Ficha Limpa, uma vez que havia sido condenado pelo Supremo em abril do ano passado.
Na decisão assinada 01 de Fevereiro de 2023, o ministro apontou o recorrente descumprimento de medidas cautelares por parte de Silveira como motivo para a prisão. Moraes também determinou que a Polícia Federal suspenda quaisquer documentos de porte de arma de fogo em nome do ex-parlamentar e cancele os passaportes dele. Também mandou que o Exército também cancele quaisquer Certificados de Registro para realizar atividades de colecionamento de armas de fogo em nome do ex-deputado bolsonarista.
Marcos do Val volta atrás e diz que suposta proposta de golpe partiu de Daniel Silveira
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) voltou atrás nas declarações sobre a suposta participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma tentativa de golpe de Estado e de gravar ilegalmente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O parlamentar disse a jornalistas que o pedido para tentar gravar o magistrado partiu do ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), em uma reunião a que Bolsonaro estava presente. Do Val também recuou da possibilidade de renunciar ao mandato de senador.
Em transmissão pelas redes sociais, o parlamentar chegou a falar em “coação” por parte do ex-presidente, na tentativa de aliciá-lo como “infiltrado” para tentar derrubar Moraes. Apesar de ter minimizado a participação de Bolsonaro no episódio, o senador afirmou que o ex-presidente não tentou impedir o plano.
