A população palestina marca, em 2024, os 77 anos da Nakba, termo árabe para “catástrofe”
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Tanques Israelenses Invadem Jenin: Palestinos Enfrentam Deslocamento em Massa

Os moradores de Jenin encaram um futuro incerto enquanto ataques militares se intensificam, forçando milhares a fugir de suas casas.

Jenin, Cisjordânia Ocupada – Uma multidão observava em silêncio enquanto dois enormes tratores blindados rasgavam o asfalto do campo de refugiados de Jenin, abrindo caminho para três tanques israelenses.

“É a primeira vez que vejo um tanque com meus próprios olhos”, disse um jovem, com uma mistura de espanto e incredulidade, enquanto o sol se punha sobre uma das entradas do campo no domingo.

Aos poucos, os tanques avançavam, esmagando as ruas já destruídas por semanas de ataques. O campo de refugiados, praticamente esvaziado após incessantes bombardeios, se preparava para mais uma incursão militar.

Ahmed, nascido em Jenin em 2003, durante a Segunda Intifada, já testemunhara invasões militares antes. No entanto, tanques israelenses não eram vistos nas ruas de Jenin desde 2002, quando a revolta palestina começou. Agora, tudo indicava que os israelenses estavam planejando ficar por muito tempo.

“Não será fácil para eles permanecerem aqui”, murmurou Ahmed, enquanto assistia às máquinas pesadas desmontarem uma rotatória na Rua Haifa.

Os jornalistas, moradores e até um jipe militar israelense assistiam em silêncio ao avanço dos blindados. Quando as últimas barreiras foram removidas, os motores dos tanques Merkava rugiram, e os veículos começaram a invasão da cidade.

Tanques Contra Pedras

Enquanto os tanques avançavam em direção ao campo, uma cena familiar se repetia: grupos de jovens e crianças palestinas, armados apenas com pedras, tentavam resistir. Em resposta, os operadores dos tanques miraram diretamente nos jornalistas e nos moradores que assistiam ao confronto. Segundos depois, nuvens de gás lacrimogêneo tomaram o ar, dispersando todos que estavam ali.

Desde 2022, Israel realiza incursões diárias na Cisjordânia, justificando suas ações como um esforço para enfraquecer grupos de resistência armada. No entanto, desde outubro de 2023, com o início da guerra em Gaza, as operações militares israelenses na Cisjordânia se tornaram ainda mais violentas, agora utilizando helicópteros, drones e tanques.

O atual cerco a Jenin começou em 21 de janeiro, mas outras cidades também foram alvo dos ataques israelenses, incluindo Qabatiya e Tulkarem. No domingo, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, anunciou que ordenou ao exército que se prepare para uma “longa permanência nos campos esvaziados”, impedindo o retorno dos moradores e “eliminando qualquer ameaça terrorista”.

Desalojados e Sem Rumo

Mais de 40 mil palestinos foram forçados a abandonar suas casas na Cisjordânia, segundo a Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA). No entanto, Israel não permite que retornem.

O cerco a Jenin seguiu semanas de isolamento, com cortes de água e eletricidade, impostos primeiro pela Autoridade Palestina e, posteriormente, pelo exército israelense.

Muitas famílias fugiram às pressas, deixando seus pertences para trás. Um grupo de mulheres tentou retornar ao campo para recuperar alguns de seus bens, mas foi impedido por soldados israelenses, que ergueram barreiras de destroços nas ruas destruídas.

“O oficial nos disse ontem que poderíamos voltar hoje, mas agora ele se recusa a nos deixar passar”, reclamou uma das mulheres, exausta e frustrada.

Determinadas, elas tentaram outro caminho, atravessando ruas estreitas e cobertas de lama. No entanto, foram advertidas com uma palavra sinistra: “Snipers!”

Apenas com a Roupa do Corpo

“Voltaremos um dia”, disse Halima Zawahidi, sorrindo com um olhar cansado. Aos 63 anos e lutando contra um câncer de pulmão, Halima passou sua vida inteira no campo de refugiados de Jenin, até ser expulsa de sua casa em 22 de janeiro por soldados israelenses.

Ela fugiu levando apenas a roupa do corpo, enquanto aviões sobrevoavam a área e tiros ecoavam pelas ruas. Naquele dia, 10 palestinos foram mortos, marcando o início de uma onda de violência que se intensificaria nas semanas seguintes.

Agora, Halima e sua família – oito pessoas no total – dividem um único cômodo em um centro educacional para surdos, transformado em abrigo improvisado para 16 famílias desalojadas.

Outras famílias se espalharam pela cidade de Jenin, hospedando-se com parentes ou ocupando qualquer espaço disponível. Mas Halima acredita que essa é a investida mais brutal que já presenciou.

“Os israelenses querem expulsar todos do campo”, afirmou. Sua casa ainda estava de pé, mas com portas e janelas arrancadas e paredes destruídas.

Por 45 dias, os moradores de Jenin viveram sem eletricidade, sem água e sob bombardeios constantes. Primeiro, foram sitiados pela Autoridade Palestina, e depois enfrentaram o cerco israelense.

Assim como Halima, milhares de palestinos não sabem quando – ou se – poderão voltar para suas casas.

A Intensificação da Ocupação Israelense

Com poucos limites internacionais e o apoio dos Estados Unidos, Israel segue ultrapassando antigos “limites vermelhos”, sem sofrer grandes consequências.

Muitos acreditam que o objetivo final de Israel é a expulsão em massa dos palestinos da Cisjordânia – um cenário semelhante ao que ocorre em Gaza há mais de um ano.

Mesmo sem uma estratégia definida, o poder militar israelense está destruindo a vida de milhares de pessoas em Jenin, sem previsão de trégua.

“O que eles querem?”, questionou Jameela, uma moradora desalojada. “Destruir todo o campo? Querem cavar um buraco na terra e nos enterrar lá?”

Fonte: Aljazzera