Madame Satã foi um transformista brasileiro que se tornou uma figura emblemática da vida noturna e marginal da Lapa carioca na primeira metade do século XX. Sua história é marcada por lutas, crimes, arte e resistência.
Origens
Madame Satã nasceu como João Francisco dos Santos em Glória do Goitá, Pernambuco, em 25 de fevereiro de 1900. Era filho de descendentes de escravos e foi trocado por uma égua quando criança. Foi criado como empregado em uma casa em Recife até se mudar para o Rio de Janeiro aos 13 anos. Na Lapa, trabalhou como vendedor ambulante, segurança, garçom e cozinheiro. Aprendeu capoeira e navalha e se envolveu com o mundo da boemia e da criminalidade.
Identidade
João Francisco assumiu sua homossexualidade desde cedo e adotou o nome artístico de Madame Satã em 1938, quando venceu um concurso de fantasias com um traje dourado inspirado em um morcego. O apelido foi dado pelo delegado que o prendeu após a festa. Madame Satã era uma drag queen que se apresentava em cabarés e teatros cantando sambas e marchinhas. Também era conhecido por sua ironia, extroversão e coragem.
Conflitos
Madame Satã teve uma vida conflituosa com a polícia e a sociedade. Foi preso diversas vezes por motivos variados, como homicídio, agressão, furto, desacato, resistência à prisão, ultraje ao pudor e porte de arma. Ao todo, passou 27 anos e 8 meses na prisão ao longo da vida. Defendia os marginalizados da Lapa, como prostitutas, mendigos e crianças abandonadas. Também enfrentava o preconceito contra negros, pobres e homossexuais.
Família
Madame Satã se casou com uma mulher chamada Maria Faissal aos 34 anos e adotou seis filhos de criação. Era um pai dedicado que buscava dar educação e oportunidades para seus filhos. Em 1964, mudou-se para Bonsucesso com sua família para tentar uma vida mais tranquila. Abriu um bar chamado Danúbio Azul onde servia comida nordestina.
Legado
Madame Satã morreu em 12 de abril de 1976 no Rio de Janeiro por complicações respiratórias. Foi enterrado no Cemitério São João Batista com honras militares por ter sido soldado na Revolução Constitucionalista de 1932. Sua vida inspirou livros, peças teatrais e filmes que retratam sua trajetória como um símbolo da cultura popular brasileira.