No Haiti, as gangues têm uma longa história de influência e poder. Um relatório recente da ONU destaca a crescente profissionalização desses grupos criminosos, que agora estão mais organizados e melhor armados do que a própria polícia haitiana. Essa evolução é marcada pela participação de políticos e atores financeiros nas atividades das gangues, tornando sua influência na sociedade haitiana sistêmica.
Histórico de Violência e Política:
As gangues no Haiti não são um fenômeno novo. Elas remontam aos anos 1950 com os “tonton macoutes” do presidente François Duvalier e evoluíram ao longo dos anos, com as “chimeres” na era de Jean Bertrand Aristide. Esses grupos sempre tiveram ligações com o poder político, semeando terror entre a população e reforçando o controle dos líderes sobre o país.
Profissionalização e Poder de Fogo:
Atualmente, estima-se que existam cerca de 200 gangues atuantes no Haiti, controlando 80% do território de Porto Príncipe. Elas estão envolvidas em uma variedade de atividades criminosas, incluindo tráfico de drogas e armas, extorsão, sequestro e assassinato. A “Família G9” e o G-Pèp são as principais coalizões, lutando por território e poder.
O Crescente Arsenal das Gangues:
Após a saída da missão de paz da ONU (Minustah), as gangues consolidaram seu poder, adquirindo armas sofisticadas que superam as da polícia haitiana. Seu arsenal inclui desde pistolas e rifles semiautomáticos até metralhadoras leves e balas de ponta oca. Essa superioridade bélica facilita suas atividades criminosas, aumentando a violência e a instabilidade no país.
Líderes das Gangues e Recrutamento:
Líderes de gangues como “Barbecue”, “Izo” e Vitelhomme Innocent desempenham papéis centrais na violência atual, recrutando jovens vulneráveis dos bairros pobres com promessas de dinheiro ou comida. A ONU impôs sanções a cinco líderes, tentando coibir suas atividades através de proibições de viagem e congelamento de ativos.
A Economia da Extorsão e o Tráfico de Armas:
A extorsão tornou-se a principal fonte de renda para essas gangues, cobrando “pedágios” de empresas e veículos nas áreas que controlam. O tráfico de armas, principalmente dos EUA, e o trânsito de drogas são outros aspectos importantes de sua atuação, exacerbando a crise humanitária no país.
Diálogos de Crise e Reações Internacionais:
A violência das gangues levou à convocação de diálogos de crise por parte da CARICOM, com a participação de envoys dos Estados Unidos, França, Canadá e das Nações Unidas. A situação desesperadora em Porto Príncipe e outras áreas do Haiti tem deslocado milhares de pessoas, evidenciando a urgência de uma solução para a crise.
Impacto na População e Resposta Internacional:
A violência e o controle das gangues afetam profundamente a vida cotidiana dos haitianos, com relatos de corpos nas ruas e um número crescente de deslocados internos. A comunidade internacional tem tentado responder, com evacuações de pessoal diplomático e discussões sobre reformas políticas urgentes e assistência ao Haiti.
Essa ascensão das gangues no Haiti destaca a complexidade dos desafios enfrentados pelo país, envolvendo questões de segurança, política e socioeconomia. A solução para a crise requer uma abordagem multifacetada que aborde tanto as causas imediatas da violência quanto suas raízes profundas na desigualdade e na instabilidade política.