O mundo experimentou diversas fases de poder e influência. Durante a Guerra Fria, vivíamos em um mundo bipolar, onde Estados Unidos e União Soviética eram as superpotências dominantes. Cada um ditava as regras em sua esfera de influência, criando uma clara divisão geopolítica. No entanto, com o colapso da União Soviética, os EUA emergiram como a única superpotência, inaugurando um período unipolar.
Esse domínio unipolar dos EUA não durou muito. Cerca de 15 anos atrás, o cenário começou a mudar. Os EUA, embora ainda poderosos, começaram a recuar de seu papel de policial global. Paralelamente, outras nações começaram a ganhar destaque e poder, desafiando a ordem estabelecida. Três principais fatores contribuíram para essa mudança:
- Rússia: Após o colapso da União Soviética, a Rússia, uma antiga superpotência, entrou em declínio. Isso gerou ressentimento, pois não foi integrada às instituições ocidentais.
- China: A China foi integrada às instituições lideradas pelos EUA com a expectativa de que se tornaria mais “ocidentalizada” à medida que crescesse. No entanto, a China manteve sua identidade e agora desafia os EUA em várias frentes.
- Globalização: Muitos cidadãos em democracias ricas sentiram-se marginalizados pela globalização. Isso levou a um sentimento de desconfiança em relação aos governos e instituições.
Essas mudanças levaram a um mundo sem líderes claros. No entanto, essa falta de liderança é vista como temporária, pois novas ordens estão surgindo. Atualmente, existem duas ordens claras: a ordem de segurança e a ordem econômica. A ordem de segurança ainda é dominada pelos EUA, que possuem capacidades militares inigualáveis. No entanto, a ordem econômica tornou-se multipolar, com EUA, China, União Europeia, Índia e Japão desempenhando papéis significativos.
A interação entre essas duas ordens cria tensões. Os EUA, por exemplo, usam seu poderio militar para atrair economias, enquanto a China usa sua força econômica para ganhar influência diplomática. No entanto, além dessas duas ordens, uma terceira, a ordem digital, está emergindo rapidamente.
A ordem digital é única porque não é dominada por governos, mas por empresas de tecnologia. Essas empresas têm um poder sem precedentes. Durante a guerra na Ucrânia, por exemplo, foram as empresas de tecnologia que forneceram as ferramentas que permitiram à Ucrânia se defender dos ataques cibernéticos russos. Além disso, as plataformas de mídia social têm o poder de moldar narrativas e influenciar eventos globais, como visto nos tumultos no Capitólio dos EUA e a insurreição em 8 de janeiro no Brasil.
O poder dessas empresas de tecnologia é tão grande que elas agora determinam nossas identidades. Antes, nossa identidade era moldada pela natureza e pela criação. Agora, os algoritmos desempenham um papel crucial. Isso levanta questões sobre o papel e a responsabilidade dessas empresas. Elas têm uma quantidade incrível de dados sobre nós e têm o poder de influenciar a sociedade de maneiras que nunca imaginamos.
O futuro é incerto. Se os EUA e a China decidirem exercer mais controle sobre o mundo digital e as empresas de tecnologia se alinharem com esses governos, poderíamos entrar em uma guerra fria tecnológica. Por outro lado, se as empresas de tecnologia mantiverem modelos de negócios globais, poderíamos ver uma nova globalização, uma ordem global digital.
No entanto, se a ordem digital se tornar dominante e os governos perderem sua capacidade de governar, as empresas de tecnologia poderiam se tornar os atores dominantes no cenário global. Isso poderia levar a um mundo de oportunidades ilimitadas ou a um mundo sem liberdade.
Em conclusão, o mundo está em um ponto de inflexão. As decisões tomadas agora determinarão o futuro da ordem global. As empresas de tecnologia, com seu poder e influência sem precedentes, desempenharão um papel crucial na formação desse futuro. A questão é: elas usarão esse poder para o bem ou para seus próprios interesses? A resposta a essa pergunta determinará o tipo de mundo em que viveremos nas próximas décadas.
