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Sonia Guajajara é nomeada primeira-ministra do recém-criado Ministério dos Assuntos Indígenas no Brasil

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Sonia Guajajara é nomeada primeira-ministra do recém-criado Ministério dos Assuntos Indígenas no Brasil

A trajetória de vida dos Guajajara não foi fácil. Em 1984, aos 10 anos, saiu de casa e mudou-se para a cidade para fazer trabalhos domésticos para sustentar a família. Em 1989, apoiada por organizações indígenas, iniciou seus estudos em letras e curso de enfermagem.
Sonia Bone de Souza Silva Santos (Guajajara)
Sonia Bone de Souza Silva Santos (Guajajara)
Sonia Bone de Souza Silva Santos (Guajajara)
Sonia Bone de Souza Silva Santos (Guajajara)

Em 2022, uma ativista indígena brasileira entrou para a lista das 100 pessoas mais influentes do mundo da revista TIME ao receber o prêmio na categoria Pioneiros. O nome dela é Sonia Bone de Souza Silva Santos (Guajajara), também conhecida como Sonia Guajajara. Guajajara nasceu em 6 de março de 1974, na Terra Indígena Arariboia, Maranhão, no nordeste do Brasil. Ela é mãe de três filhos: Yaponã, 22, Mahkai, 20, e Ywara, 16. Em 28 de dezembro de 2022, Guajajara fez história ao ser nomeada pelo presidente Luiz Inácio “Lula” da Silva como ministra da recém-criada Ministério dos Assuntos Indígenas.

Guajajara tem uma longa história no movimento brasileiro pelos direitos indígenas. Alguns de seus prêmios e reconhecimentos incluem o Prêmio Ordem do Mérito Cultural, concedido pelo Ministério da Cultura em 2015; a medalha de Honra ao Mérito do governo do Maranhão em 2015; o Prêmio João Canuto pelos Direitos Humanos da Amazônia e Liberdade, concedido pelo Movimento de Direitos Humanos em 2019; e o Prêmio Packard, concedido pela Comissão Mundial de Áreas Protegidas da União Internacional para a Conservação da Natureza em 2019.

A trajetória de vida dos Guajajara não foi fácil. Em 1984, aos 10 anos, saiu de casa e mudou-se para a cidade para fazer trabalhos domésticos para sustentar a família. Em 1989, apoiada por organizações indígenas, iniciou seus estudos em letras e curso de enfermagem.

Em 2005, foi fundada a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) para defender os direitos dos Povos Indígenas. A APIB visa reunir as várias organizações indígenas em todo o país, unificar os esforços de defesa dos Povos Indígenas e suas agendas e mobilizar as comunidades indígenas de todas as regiões do país contra ameaças e agressões.

Em 2007, Guajajara começou a trabalhar com organizações indígenas Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e Anmiga (Associação de Mulheres Indígenas Amazônicas) na região amazônica, e em 2009 foi eleita Coordenadora Adjunta da COIAB. Em 2013, foi eleita Coordenadora Executiva da APIB. E em 2017, Guajajara lançou sua candidatura à presidência do Brasil com uma agenda “indígena, anticapitalista e ecossocialista”. A repercussão foi tamanha que a artista musical Alicia Keys cedeu seu espaço no palco principal do evento mundial de música Rock in Rio para Guajajara falar sobre a demarcação de terras na Amazônia, ocasião em que Guajajara declarou o que se tornou o lema de sua vida : “Demarcação Já – a mãe de todas as lutas!”

Guajajara é a primeira mulher indígena a concorrer à presidência do Brasil e, embora não tenha sido eleita, conseguiu ganhar reconhecimento e visibilidade para as questões dos Povos Indígenas. Em 2021, ela se tornou alvo de assédio do Estado pelo então presidente Bolsonaro e seus apoiadores por seu trabalho para garantir os direitos dos povos indígenas (leia a carta da Cultural Survival apoiando Guajajara). Nas recentes eleições de outubro de 2022 no país, ela foi eleita para o Congresso com mais de 150.000 votos como deputada federal por São Paulo, o estado mais industrializado do Brasil.

Após décadas de tutela do Estado e falta de participação efetiva nas políticas envolvendo os Povos Indígenas, em 2022 o Brasil criou um Ministério de Estado dos Povos Indígenas. É a primeira vez na história do Brasil que o país cria um Ministério específico para os Povos Indígenas. Isso significa que, pela primeira vez, instituições públicas, políticas de Estado e políticas para os Povos Indígenas serão geridas por indígenas. Guajajara fez história como o primeiro Ministro dos Povos Indígenas do Brasil. Ela chamou sua nomeação de “reparação histórica” após anos de luta e após o reinado catastrófico de Bolsonaro.

Os ministros de Estado são nomeados pelo presidente para auxiliar em diversas funções do poder executivo. Como ministra, Sonia Guajajara administrará não apenas a FUNAI, órgão estadual dos Povos Indígenas, mas todas as secretarias, órgãos e órgãos públicos responsáveis pelas políticas públicas para os Povos Indígenas, incluindo saúde, educação e justiça. Ela também será responsável por informar o Estado brasileiro sobre a situação dos Povos Indígenas e auxiliar, criar e implementar políticas públicas com base no limiar de terra, direitos e meios de subsistência indígenas.

Sete desafios do novo ministério

O Ministério dos Povos Indígenas será liderado pelas comunidades de maneira culturalmente orientada, com equilíbrio de gênero, responsável e transparente, enquanto trabalha dentro das estruturas existentes do Estado. Aqui estão sete dos maiores desafios de Guajajara que ela enfrentará como ministra:

1. Colocar os Povos Indígenas no orçamento permanentemente

Vários setores da sociedade brasileira, especialmente os econômicos e políticos, ainda veem os povos indígenas como obstáculos ao desenvolvimento e impulsionam uma agenda que os impacta profundamente, danificando suas terras, empobrecendo seus territórios e aniquilando as políticas públicas para os povos indígenas. A utilização dos recursos do Estado fortalecerá a agenda indígena ao incluir “normas legais que vinculam toda a sociedade. É preciso enxergar este espaço como estratégico para o empoderamento de nossos Povos e garantir que efetivamente nossas lutas e agendas sejam evidenciadas e transformadas em instrumentos de resistência e poder neste contexto agudo de correlação de forças e ataques permanentes aos direitos indígenas” ( Fonte: APIB – Nossa Carta para a Política).

2. Demarcar e proteger as terras demarcadas

De acordo com o relatório de transição do governo publicado em dezembro de 2022, a omissão criminosa do Estado na fiscalização das terras indígenas afetou os Povos Indígenas em todas as regiões. Além de congelar as demarcações, o governo do ex-Bolsonaro tornou as condições mais inseguras para os povos indígenas. Estima-se que cerca de 40% da população indígena foi afetada por violações de direitos. A FUNAI, que é responsável pela proteção das terras indígenas (e em 2023 será renomeada como Fundação Nacional dos Povos Indígenas), foi desmantelada e também sofreu cortes orçamentários drásticos e má gestão. Em 2022, gastou apenas 30% de seu orçamento.

Também durante o governo de Bolsonaro, de 2019 a 2022, o número de defensores da terra indígena mortos por força letal aumentou para até 170 anualmente – uma falha impressionante da parte da FUNAI em proteger os povos indígenas. Guajajara terá que trabalhar para revogar as leis que deixaram as terras indígenas mais vulneráveis, uma luta que ela chama de “a mãe de todas as lutas”.

3. Acabar com a vulnerabilidade física e social dos Povos Indígenas

O sistema de saúde, a alimentação e os programas de educação dos povos indígenas estão em ruínas. Eles precisam de avaliação, novas políticas e mecanismos de proteção para garantir e garantir a segurança e o bem-estar das comunidades indígenas e devem incluir povos que vivem em isolamento voluntário e povos recentemente contatados. Nos últimos anos, houve uma agenda para destruir as agências estatais que fornecem saúde, nutrição e educação à população indígena. É necessária uma reforma significativa nos órgãos estatais que trabalham nessas áreas.

4. Fortalecimento das línguas indígenas

Durante a Década Internacional das Línguas Indígenas da ONU (2022-2032), o Brasil tem que fazer mais para proteger as 190 línguas que correm grande risco de desaparecimento. Políticas públicas, educação, literatura, pesquisa e espaços de poder precisam incluir as línguas indígenas em seu escopo e trabalho. Como as principais leis e a própria constituição do país, as políticas de língua e cultura indígenas precisam focar nas relações entre sociedade tradicional e conhecimento científico, oralidade e escrita, tradições e traduções, e a construção da educação intercultural nas políticas educacionais do país como um todo. As ações devem ter como objetivo financiar e proporcionar às comunidades indígenas o resgate de suas memórias históricas, a reafirmação de sua identidade, a revitalização de suas línguas e a transferência intergeracional de conhecimentos. Para isso, é preciso garantir o acesso à informação e ao conhecimento técnico e científico. Os esforços para resgatar, revitalizar, manter e fortalecer as línguas indígenas devem acontecer nos chamados espaços de prestígio, como escolas e universidades, onde o conhecimento é produzido, compartilhado e fomentado.

5. Alcançando indígenas que vivem em áreas urbanas

Guajajara cresceu na cidade e sabe que os índios no contexto urbano sofrem ainda mais hoje com a invisibilidade e a negação de direitos. Criar um sistema de autodeterminação e reconhecimento da ancestralidade daqueles que não vivem mais em territórios tradicionais é crucial para reverter o etnocídio legal que o colonialismo criou.

6. Criar mecanismos para prevenir, adaptar e compensar desastres ambientais

Como apontou Guajajara, ela deve trabalhar ao lado do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas para garantir os direitos dos Povos Indígenas como os principais guardiões do meio ambiente. A gestão de “perdas e danos” deve ser gerida e liderada pelos indígenas, devido aos impactos culturais e espirituais de tais eventos. (Leia: “Declaração de alto nível da bancada dos povos indígenas na COP 27”.)

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