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A pitoresca Baía de Guanabara é um cemitério de navios tóxicos.

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A pitoresca Baía de Guanabara é um cemitério de navios tóxicos.

Dezenas de barcos abandonados e apodrecidos pioraram as condições da Baía de Guanabara, que os ambientalistas dizem ser tratada mais como um aterro do que como um recurso valioso.

Emoldurada por montanhas verdes e uma paisagem urbana de fazer arrepiar os cabelos toda a vez que vejo, a Baía de Guanabara oferece uma das vistas mais deslumbrantes do Rio de Janeiro. Esta beleza natural, que separa o Rio da cidade de Niterói, encantou inúmeros visitantes ao Brasil e inspirou obras de arte.

A famosa orla do Rio é um perigo a saúde pública. Suas águas são tão imundas que a maioria dos moradores nem pensariam em nadar nelas. E não é apenas o esgoto bruto: um canal de navegação que leva à baía é tanto um cemitério quanto uma via navegável.

Baia da Guanabara

Navios de madeira apodrecidos balançam enquanto afundam lentamente em suas docas. Os rebocadores afundam sob o peso da água, seus cascos assentados no leito raso do mar. Outras embarcações foram esquecidas lá por tanto tempo, apenas seus esqueletos enferrujados permanecem espreitando sobre as ondas.

Dezenas de navios foram abandonados na costa do Rio de Janeiro ao longo de décadas, por proprietários desconhecidos e por motivos que não são claros. Os destroços se tornaram obstáculos que os pescadores locais devem contornar e, à medida que muitos barcos de madeira apodrecem, vazam combustível e outros produtos químicos tóxicos que poluem ainda mais o ecossistema e adoecem a vida marinha. (Os peixes da baía ainda são comestíveis por humanos, por enquanto.)

Uma cientista de saúde pública da Universidade Federal do Rio de Janeiro, diz que se a Baía de Guanabara fosse mais intocada, os destroços teriam gerado protestos. “Em outra baía, em uma situação relativamente normal, esses barcos seriam um ultraje – uma catástrofe”, diz ela. “Mas a pobre Baía de Guanabara é tratada como um lixão.”

Para muitas pessoas aqui, os navios são a evidência mais visível da poluição da baía e das promessas quebradas das autoridades de limpá-la.

“Eles são humilhantes”, disse Carlos Alberto Porto, 59, pescador de camarão, sobre os navios naufragados enquanto puxava suas redes, separando maços de cigarro e frascos de xampu descartados da pesca em uma manhã recente. “E a cada dia parece que há mais.”

Os destroços estão concentrados no canal São Lourenço, próximo a Niterói, que é ligado ao Rio por uma ponte. Ao redor da baía há 51 navios abandonados, segundo a Marinha do Brasil, que disse ter feito uma contagem nas últimas semanas.

Moradores e ativistas são céticos quanto a esse número ser muito baixo e culpam as autoridades por não reprimir os proprietários negligentes e limpar o lixo das águas. Eles dizem que ninguém realmente conhece o escopo completo do problema, em parte devido à confusão burocrática sobre quem é o responsável.

“É um descaso generalizado”, diz Sérgio Potiguara, 54, ecologista que há décadas denuncia a poluição na baía.

Porta-vozes das prefeituras do Rio de Janeiro e Niterói encaminharam as perguntas à Capitania dos Portos do Rio, que é uma divisão da Marinha do Brasil. A agência ambiental do estado do Rio de Janeiro, e a agência reguladora ambiental federal do Brasil, Ibama, não responderam aos pedidos de comentários.

Os destroços não são difíceis de encontrar: navios flutuam com seus motores e componentes eletrônicos removidos. Outros ficaram ociosos por tempo suficiente para que árvores e arbustos brotassem de seus conveses.

Um dos últimos grandes esforços de limpeza veio com a candidatura do Rio para sediar as Olimpíadas de 2016. As autoridades se comprometeram a reduzir a poluição da baía em 80% – mas anunciaram que não atingiriam essa meta mais de dois anos antes do início dos jogos. As condições pioraram desde então.

Lixo e esgoto – cerca de dois terços sem tratamento – inundam a baía das cidades vizinhas, que abrigam cerca de 11 milhões de pessoas. Ambientalistas regularmente soam o alarme sobre as condições precárias.

O estado do Rio de Janeiro vendeu sua concessionária de água e esgoto, a Cedae, em 2021, em uma das maiores privatizações do Brasil. A venda ofereceu esperança a alguns frustrados por anos de negligência do governo de que os novos proprietários tomariam medidas.

Um incidente de grande repercussão no final do ano passado tornou o público mais consciente e irritado com os barcos abandonados. Em 14 de novembro, o São Luiz – um graneleiro em ruínas que há muito estava ancorado no Rio – se libertou em uma tempestade. Rajadas de vento empurraram a embarcação de 200 metros de comprimento como um navio de papel até que ela se chocou contra a ponte Rio-Niterói.

A colisão com a ponte, uma das mais movimentadas do Brasil, interrompeu temporariamente o tráfego no horário de pico antes que o São Luiz fosse puxado para o porto do Rio, onde atualmente está atracado. Mas o verdadeiro trabalho de limpeza dos destroços da baía, diz Potiguara, ainda não começou.

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