Os indígenas vivem em uma reserva no estado de Roraima, no norte do Brasil.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou seu antecessor, o de extrema-direita Jair Bolsonaro, de cometer genocídio contra a tribo da floresta tropical.
O governo declarou emergência médica depois que centenas de crianças Yanomami morreram de desnutrição.
As mortes estão ligadas à poluição da água causada pela mineração e extração de madeira na área densamente florestada, onde a insegurança alimentar é grande.
No sábado, o presidente Lula visitou Roraima, que faz fronteira com a Venezuela e a Guiana, após relatos de desnutrição grave entre crianças Yanomami e disse estar “chocado” com o que encontrou.
“Mais do que uma crise humanitária, o que vi em Roraima foi um genocídio: um crime premeditado contra os Yanomami, cometido por um governo insensível ao sofrimento”, disse posteriormente. “Vim aqui para dizer que vamos tratar nossos indígenas como seres humanos”.
Estima-se que 28.000 indígenas vivam na reserva Yanomami. Eles caçam, praticam agricultura de corte e queima em pequena escala e vivem em aldeias pequenas, dispersas e semipermanentes.
Em seus quatro anos no poder, Bolsonaro frequentemente criticou o tamanho das reservas indígenas e prometeu abrir algumas delas para agricultura e mineração. Seu governo enfraqueceu as proteções ambientais, e os críticos disseram que sua retórica encorajou atividades ilegais na região.
Hoje, estima-se que cerca de 20 mil garimpeiros ilegais operem dentro da reserva Yanomami, rica em ouro, diamantes e minérios. Em 2021, garimpeiros da região abriram fogo contra os Yanomami com armas automáticas.
O novo governo Lula diz que mais de 500 crianças indígenas morreram nos últimos anos por beber água contaminada com mercúrio, que está diretamente ligada à mineração ilegal de ouro.
Lula foi empossado como presidente em 1º de janeiro após derrotar Jair Bolsonaro por pouco, e a sociedade brasileira está profundamente polarizada.
Sonia Guajajara, Ministra dos Povos Indígenas, disse: “Devemos responsabilizar o governo anterior por permitir que essa situação piorasse a ponto de encontrarmos adultos pesando como crianças e crianças reduzidas a pele e ossos”.
O ministro do Interior, Flavio Dino, também acusou o governo anterior de abandonar a comunidade indígena e prometeu uma investigação.
Além de transportar de avião alguns dos membros mais gravemente doentes da tribo, as autoridades brasileiras anunciaram que o Ministério da Saúde criaria um hospital de campanha e enviaria suprimentos e profissionais de saúde para a área.
O médico André Siqueira, especialista em medicina tropical que atualmente trabalha na região de Roraima, disse à BBC que se deparou com casos de desnutrição grave em famílias indígenas inteiras e disse que a situação era “catastrófica” e “desastrosa”.
Ele disse que os Yanomami não são as únicas tribos que enfrentam sérias ameaças à sua existência e que testemunhou “situações semelhantes de falta de assistência e cuidado” em outros territórios indígenas.
“Isso é algo que precisa ser tratado com urgência, porque nossa humanidade depende disso”, disse o Dr. Siqueira.